quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Entrevista com Ana Carolina Ribeiro do grupo Dignidade



Há 60 anos nasceu a declaração Universal dos Direitos Humanos, que em seu artigo 2º alerta: Todo o homem tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta declaração sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. Entretanto, o que vemos hoje é que depois de 60 anos, nada disso é respeitado.

É o que conta Ana Carolina Ribeiro, psicóloga do grupo Dignidade, organização não governamental, sem fins lucrativos fundado em 1992 em Curitiba, que faz um trabalho de apoio às pessoas que sofrem violência e discriminação por causa de sua orientação sexual. Segundo ela, a violência contra homossexuais é uma dificuldade primária por ser difícil monitorar esses casos, muita gente acaba não denunciando por medo do agressor, e achar que não tem embasamento para fazer uma denúncia (acha que merece estar apanhando). Neste caso, Ana chama de homofobia internalizada, uma falta de auto-aceitação, do auto-preconceito.

Com relação aos casos de homicídios, por exemplo, o extremo da violência, a psicóloga diz que também há muita dificuldade. “Já tentamos uma parceria com o IML para fazer essa constatação, mas isto está em fase de negociação.” Segundo ela, é difícil contabilizar o número de assassinatos por homofobia e a polícia muitas vezes, não registra como crime homofóbico, mas como dívida ou outro tipo de ação, que não a homofobia. “Isso dificulta bastante nosso trabalho na situação de tentar monitorar essa violência”, diz Ana.

Em relação à polícia, a psicóloga conta que a abordagem da Polícia Militar e da Guarda Municipal são mais violentas com os gays. “Muita gente vem até aqui para denunciar no caso de ter sofrido algum ataque, ao invés de ir a uma delegacia, principalmente no caso das transsexuais e travestis”. Ana destaca que quando essas pessoas vão até uma delegacia não são bem atendidas, e não têm sua identidade respeitada.

Outro problema que a diversidade tem enfrentado é com os skin reds. Segundo a psicóloga, há uns três anos aconteciam ataques freqüentes na cidade de Curitiba. Este ano, a organização voltou a receber denúncias de ataques, mas o problema é que são queixas informais de pessoas que viram outras pessoas sendo agredidas, mas os que foram agredidos, não denunciaram, principalmente, pela questão do medo.

A psicóloga dá dicas de como identificar os skin reds. “É bem fácil, eles andam em grupos, geralmente de preto, usam sempre algum símbolo que identifique, no caso a suástica ou outro símbolo neo-nazista”. Eles procuram se reunir em lugares que sabem que os gays freqüentam já premeditando os ataques. A dificuldade é grande, pois se nada for registrado, não há como fazer algo preventivo. “Às vezes temos que esperar por coisas mais graves para daí termos elementos para denunciar”, desabafa.

De acordo com Ana, a única forma de se prevenir contra a violência, o preconceito, infelizmente ainda é não demonstrar na rua afetividade quando está com seu parceiro. Também se deve tomar cuidado com os ambientes que freqüentam, enfim ter mais atenção do que o normal.


Um comentário:

Anônimo disse...

Muito boa essa entrevista, eu não acredito que ainda nos dias de hoje exista esse tipo de preconceito...